férias’11: 7º episódio “caminhar”

by catarina clemente

Estes dias têm sido feitos de caminhadas longas e suadas, ciclos intermináveis de curva e contra-curva, descidas vertiginosas e subidas que mais parecem escaladas.

Caminhadas que nos lembram que a idade do Doggy não perdoa, as pernitas já não são as mesmas, o olho esquerdo pouco vê e, de vez em quando, um queda aparatosa acontece. Felizmente sem consequências graves.

O Scott ainda tem o sangue na guelra, activa o modo TT sempre que necessário e por vezes temos dúvidas se é um cão ou uma cabra.

Os donos aguentam-se como podem, mas regressam a casa medalhados com nódoas negras e arranhões de todas as formas e feitios.

O facto é que, mais ou menos esmurrados, acabamos sempre por nos deslumbrar com o que o final de cada percurso nos reserva: uma lagoa azul, uma cascata fresca, um miradouro de vistas grandiosas…

Mas o derradeiro desafio foi, sem dúvida, “a fenda”. Para saber mais, basta googlar “calcedónia, gerês” mas para sentir, é preciso ir lá. E as imagens que se seguem não fazem justiça ao percurso.

Resta dizer que esta “consecução”  – com os dois canídeos a tira-colo – só foi possível graças à ajuda de um grupo de pessoas fantásticas, que se encontrava no local pronto para iniciar a escalada e que se prontificou a levar-nos a reboque.

Muitas gargalhadas e contusões depois, chegámos ao topo da Calcedónia com o sentimento de missão cumprida e a confirmação da importância do trabalho em equipa. E alívio por não ter perdido nenhum cão!

Subida à Calcedónia, uma das coroas de gloria cá da terra. A tarde estava como um veludo, e as fragas, amolecidas pela luz, pareciam broas de pão a arrefecer. Do alto, a paisagem à volta era dum aconchego de berço. Muros sucessivos de cristas — círculos concêntricos de esterilidade — envolviam e preservavam a solidão. Nas vezeiras, resignadas, as rezes esmoíam os tojos como quem ajeita um cilício ao corpo. E mais uma vez me inundou a emoção de ter nascido nesta pequena pátria pedregosa que é Portugal. Há nessa condenação como que uma graça dos deuses. Também é preciso ser de eleição para merecer certas pobrezas

Gerês,6 de Agosto de 1952

Miguel Torga – Diário VI